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PATAGÔNIA – RUTA 40 – DE EL CALAFATE A TORRES DEL PAINE

Antes de viajar pesquisei muito sobre fazer o passeio até Torres del Paine no Chile, pelo que vi em vários posts era um passeio cansativo e a estrada não era das melhores, mas, como tínhamos bastante tempo em El Calafate achamos que valeria a pena. A principio a ideia era fazer um bate volta, mas depois de ler várias recomendação resolvemos passar uma noite em Puerto Natales (cidade mais próxima ao parque de Torres del Paine) e voltar no dia seguinte.

Bom, a visita a Torres del Paine é maravilhosa e com toda certeza valeu a pena, mas isso é assunto para outro post, pois hoje foi contar como foi a viagem de El Calafate até lá pela famosa Ruta 40, a estrada mais famosa da Argentina, equivalente a Rota 66 nos Estados Unidos.

A Ruta 40 é a estrada mais extensa da Argentina, começando em Santa Cruz e se estendendo até a divisa com a Bolívia, ao todo são 5224km paralelos a Cordilheira dos Andes, passando pela maioria dos Parques Nacionais. Mas a sua fama se deve mesmo a beleza de suas paisagens e ao perigo de alguns trechos não asfaltados com terra batida e pedras, o rípio.

Para chegar até Torres del Paine são duas opções, a primeira, a mais curta (escolhida por nós). é pelo vilarejo de Tapi Aike, pegando um trecho de 70km de rípio da Ruta 40.

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E a segunda, indo pelo asfalto, pela cidade de La Esperanza, onde o trajeto tem praticamente o dobro da quilometragem.

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Obs. Os mapas a cima só vão até a fronteira argentina de Rio Don Guillermo, pois depois da aduana existe um percurso de 6km de estrada de rípio até a aduana chilena que o Google ainda não reconhece.

Escolhemos a primeira opção, afinal achamos que não teria grande mistério em dirigir no rípio, havíamos lidos vários relatos de pessoas que foram e nos pareceu bem tranquilo, alem de resultar em uma bela economia no tempo de viagem, o que nos daria mais tempo dentro no Parque Nacional de Torres del Paine.

Bom, planejamento feito (antes de viajar, é claro) no segundo dia de viagem chegou a hora de cair na estrada. Saímos cedo do hotel, por volta das 7/8 horas, e antes disso aproveitamos o wifi para carregar o mapa no Google maps dos nossos celulares, ele funcionou perfeitamente e não nos deixou na mão em momento algum, mesmo sem sinal de internet ou mesmo telefone. Além disso, fomos preparados com uma pequena mala para o pernoite em Puerto Natales, muita água e alguns snacks, pois sabíamos que a viagem seria longa e quase não existiriam lugares de parada.

O primeiro trecho da estrada é lindo e o asfalto é perfeito, um verdadeiro tapete sem nenhum buraco, fica difícil manter a velocidade, que aliás não é controlada e você pode ir a quanto desejar, pois dificilmente encontrada um guarda pela estrada. A única regra por ali é manter os faróis sempre ligados, de dia ou de noite! Mas conforme vamos nos afastando da civilização e entrando na natureza bruta começamos a ver diversos bichos atravessando de um lado para o outro na estrada, momento que percebemos que é sim necessário manter uma velocidade que não seja tão alta.

90km depois da saída de El Calafate pegamos o atalho a direita para continuar na Ruta 40 e logo depois começa o rípio, a partir daí a estrada fica maravilhosa e você se sente dentro de um filme com aquele imenso caminho no meio de absolutamente nada. Tivemos que parar para tirar várias fotos, é claro!

Preciso trabalhar no meu pulo!! hahah

A partir daí os bichos ficam cada vez mais frequentes e você se sente em um verdadeiro safári, vimos guanacos, um animal semelhante a lhama, viscayas, um tipo de lebre, os choiques, semelhante a um avestruz, uma raposa, muiitasss ovelhas e, se você der muita sorte (ou azar), nós não demos, da pra ver até uma puma!

Passada a empolgação começamos a sentir os efeitos do rípio, fomos em uma época muito seca (final de dezembro) e não chovia há muito tempo, a terra estava muito fofa o que deixava a pista bem instável, era necessário segurar a direção bem firme, pois qualquer pedra maior em contato com os pneus fazia o carro derrapar, a partir daí reduzimos a velocidade para 60km/h e começamos ter mais cautela, até que veio o grande susto!

Estávamos em um longo trecho reto que terminava em uma subida, eis que vemos uma SUV lá longe começando a descer a rampa, nisso ela perde o controle e começa a capotar diversas vezes até sair da estrada em meio de uma nuvem de terra. Corremos para ajudar já pensando no pior, afinal o acidente foi muito feio mesmo, quando nos aproximamos, desci do carro e vi que, milagrosamente, as 5 pessoas haviam saído do carro inteiras, sem nenhum arranhão se quer e o carro, com certeza, com perda total! Nem eles acreditavam, eram um grupo de 5 jovens americanos que estavam vindo do Chile e indo para El Calafate, assustadíssimos eles pediram para a gente ir chamar ajuda, pois ali não existe sinal de celular. E é aí que nos demos conta do grande problema da Ruta 40!

Ela é uma estrada muito vazia, principalmente nesse trecho, você fica horas sem ver um carro passar e sem sinal de civilização, saímos em busca de ajuda e depois de 1km mais ou menos vimos um telefone na beira da estrada, desci, mas só havia sobrado o poste, o telefone já não existia a muito tempo e isso se repetiu em todos os que encontramos na estrada. Seguimos por mais uns 15km até chegar a Tapi Aike, um micro vilarejo, se é que da pra chamar assim, formado por um posto de gasolina e um posto policial completamente deserto. Desci no posto, que estava fechado e comecei a bater pra ver se alguém aparecia, não obtive resposta, apenas algumas galinhas??? apareceram. Segui para o posto de gasolina em frente onde o frentista nos avisou que deveria ter alguém sim ali, mas que ele devia estar dormindo. Voltei e bati mais até que um policial apareceu. Relatei o acidente e ele me garantiu que iriam providenciar o socorro,  me perguntou se haviam feridos e eu fiquei na dúvida se mentia, mas achei melhor falar a verdade, que todos estavam bem; meu erro, pois aí notei que ele não deu a mínima importância para o acidente e não se apressaria nem um pouco para resgatar os 5 que estavam ali no meio do nada.

O posto de gasolina/lanchonete em Tapi Aike, aproveita para abastecer pois é o último posto do lado argentino, onde a gasolina é muito mais barata.

Não sei como acabou a história e que horas eles foram resgatados, mas fiquei pensando nos perigos de um lugar tão remoto assim, ali, qualquer acidente, por mais simples que seja, toma outras proporções pelo isolamento e dificuldade de acesso! No posto policial não havia se quer uma ambulância, fico pensando que se houvesse algum ferido grave e se a gente não tivesse passado exatamente naquela hora a pessoa poderia morrer ali sem nenhuma chance de ajuda!!

Não preciso nem falar que seguimos viagem com o maior cuidado possível, né?

Em Tapi Aike também volta o asfalto, é ali que a estrada vinda de La Esperanza se junta com a Ruta 40 para os últimos 40km até a fronteira Don Guillermo em Rio Gallegos. Lá, é necessário parar para que os passaportes sejam carimbados e mostrar a autorização do carro para ir para o Chile (é só solicitar na hora do aluguel).

Dali são mais 6km de rípio até chegar na aduana chilena em Cerro Castillo. Engraçado que ao se aproximar do Chile a paisagem vai mudando, o deserto vai ficando para trás e a paisagem fica verdinha com o Parque Nacional de Torres del Paine nos acompanhando no fundo, é lindo!

Em Cerro Castillo a aduana é mais chatinha, pra começar o portão da fronteira fica fechado, para sair ou entrar na Argentina eles mal olham na sua cara, já para entrar no Chile é necessário descer do carro, preencher um formulário, passar as bagagens no raio-x e de dependendo do momento até ter o carro revistado (não foi o nosso caso). É proibido entrar com qualquer tipo de alimento e isso se deve ao fato do Chile ter uma enorme produção agrícola, assim todo cuidado é pouco com o controle de pragas. Outro fator que pode prejudicar muito a sua passada na aduana são os enormes ônibus lotados de turistas, se você chegar junto com algum e eles estiverem na sua frente você vai ter que esperar todo o grupo passar até chegar a sua vez, portanto, se você ver algum ônibus na estrada tente passar na frente dele!

Aduana chilena.

Passado a aduana você estará no minúsculo, porem simpático, vilarejo de Cerro Castillo, mas como esse post já está grande demais vou deixar o fim dessa viagem para o próximo!!

Até aqui foram por volta de 4 horas de viagem e meio tanque de gasolina com todas as paradas e imprevistos! Até Torres del Paine foram mais 2 horas, contando com o tempo de almoço, mas isso e a volta dessa viagem ficam para o próximo post!

E se você ta de viagem marcada para região e pretende fazer essa estrada, não poderia deixar de recomendar a leitura do ótimo blog Felipe, Meu Pequeno Viajante, de onde eu tirei várias informações muito úteis que me ajudaram bastante!

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